Mãe relembra luta de bebê que nasceu prematura e ficou 77 dias na UTI: 'É uma vitória'
No AC, pais relembram luta de bebê que nasceu prematura e ficou internada na UTI neonatal “Vivíamos um dia de cada vez. Tinha dia em que chegávamos e ela e...
No AC, pais relembram luta de bebê que nasceu prematura e ficou internada na UTI neonatal “Vivíamos um dia de cada vez. Tinha dia em que chegávamos e ela estava bem, no outro estava entubada de novo. É um processo muito difícil, mas os médicos sempre explicavam que era assim mesmo”. O relato é da técnica de enfermagem Renata Miranda sobre o parto prematuro da filha Mariá Vitória, no sexto mês de gestação. Ela é mãe ainda de Renan Vitor, de 7 anos, e Agnes Liz, de 5, todos nascidos prematuramente. 📲 Participe do canal do g1 AC no WhatsApp Renata recordou o sofrimento enfrentado no primeiro parto no Dia Mundial da Prematuridade, celebrado na última segunda-feira (17). Atualmente, Mariá Vitória tem 10 anos. A menina precisou ficou 77 dias internada na UTI neonatal, período que foi marcado por instabilidade, medo e superação. “Ninguém consegue imaginar o que é ouvir de um médico que sua filha pode morrer a qualquer momento. Entreguei minha filha a Deus", relembrou. Parada respiratória, pneumonia e infecções Ainda de acordo com Renata, os médicos já sabiam que a menina seria prematura. Ela explicou que os problemas começaram na 25ª semana de gestação e que foi internada com fortes dores e, após exames, descobriu que estava com líquido amniótico baixo e bolsa rota, termo usado para se referir ao rompimento da bolsa amniótica. “Fiquei 17 dias internada, sentindo dores, tomando medicação, fazendo ultrassom para monitorar o líquido, em repouso total e com remédios para amadurecer os pulmões da Mariá e me preparavam para um parto de urgência. Às 14h55 do dia 2 de junho nasceu Mariá Vitória, com 920 gramas e 34 centímetros. Eu sabia que ali começava nossa grande luta", recordou. Mariá Vitória nasceu em parada respiratória, foi reanimada, entubada às pressas e levada para a UTI em Rio Branco Cedida Mariá nasceu em parada respiratória, foi reanimada, entubada às pressas e levada para a UTI. No dia seguinte, os pais viram a filha pela primeira vez. “Ela era tão pequena, tão frágil e, ao mesmo tempo, tão forte. Só conseguia encostar as pontas dos dedos pela portinha da incubadora”, lembrou a mãe. A pediatra informou que a bebê estava com pneumonia e infecção, adquiridas pela longa permanência da bolsa rota. Com cinco dias de vida, a Mariá piorou e recebeu o batismo dentro da UTI. A partir daí, começou a reagir, mas novas complicações surgiram. LEIA MAIS: Acre tem maior taxa de partos prematuros do país, aponta pesquisa Recém-nascido dado como morto é retirado do próprio velório após família ouvir choro em caixão no Acre Pai relata luta de bebê prematuro que nasceu com 776 gramas e está internado há 262 dias no AC: 'só o amor salva' Mariá foi extubada pela primeira vez e passou a respirar com ajuda de equipamentos, no dia 12 de junho. No mesmo dia, Renata conseguiu segurar a filha no colo pela primeira vez durante o método canguru. Dias depois, a bebê apresentou melhora e foi transferida para a Unidade de Cuidados Intermediários (UCI). Porém, a evolução durou pouco e ela precisou entrar em coma induzido. “Ela teve a primeira convulsão e entrou em parada respiratória. Depois disso, não conseguia mais sair do tubo”, relatou a mãe. A mãe relembra ainda que filha ainda sofreu quatro paradas cardiorrespiratórias em uma única noite. Renata descreve dos dias de internação como os mais difíceis. “Com tantas medicações, ela não reagia ao meu toque. Eu percebi que, se não fossem os aparelhos, ela não estaria viva.” Mariá Vitória, de 10 anos, nasceu prematura com seis meses e ficou internada na UTI neonatal de Rio Branco durante 77 dias Cedida Alta Após exames e testes, os médicos descobriram que as convulsões eram causadas por epilepsia. Depois disso, os remédios começaram a fazer efeito. Mariá melhorou e saiu do tubo de vez após cerca de 60 dias. Apesar do alívio em ver a filha reagir, os pais tiveram outra notícia preocupante ao conversar com a neurologista. “Ela nos disse que Mariá teria 90% de chance de não andar, não falar e não levar uma vida normal. Mas, era a minha filha. Com ou sem limitações, eu cuidaria do mesmo jeito'', relatou. Depois de 77 dias de internação, Mariá recebeu alta e foi para casa. "Hoje está grande, saudável, falando, andando e sem nenhuma sequela", celebrou. Rocimar Souza, pai da menina, diz que o nome da filha resume a trajetória dela. “Ela era tão frágil. Hoje é independente, feliz. É uma vitória'', completou. Prematuros A técnica de enfermagem disse que ficou com receio de engravidar novamente após o nascimento de Mariá. Contudo, o desejo de ter mais um filho encorajou ela e o marido três anos depois. Renan nasceu no oitavo mês de gestação, ou seja, com 32 semanas. "A gravidez do Renan foi diferente porque fiquei doente a gestação quase inteira, tive internação, passei 30 dias internada antes do nascimento dele. Ele não foi entubado quando nasceu, mas precisou de um suporte de oxigênio básico e logo saiu da UTI", disse. A terceira filha do casal, Agnes, veio ao mundo também no oitavo mês de gravidez. Diferente os irmãos, ela não precisou ficar na UTI. "Não há uma explicação do porquê o meu corpo não consegue levar a gravidez até o final, mas sempre pelos mesmos motivos: líquido amniótico baixo e bolsa rota. A gente nunca conseguiu compreender o porquê", finalizou. Dados preocupantes Segundo o Ministério da Saúde, seis bebês prematuros nascem a cada dez minutos no país. Uma pesquisa divulgada pela ONG Prematuridade apontou que, entre 2017 e 2021, o Acre registrou 14,2% de partos prematuros, a maior taxa do país naquela época. A neonatologista Maria do Socorro Avelino já havia alertado sobre a superlotação das UTIs neonatais desde aquele período. Atualmente, 17 bebês estão internados na UTI da maternidade Bárbara Heliodora que fica em Rio Branco. Em 2024, o Acre também registrou cerca de 15% de nascimentos prematuros, acima da média nacional. A neonatologista explica ainda que a maioria dos casos pode ser reduzida com ações preventivas, como: reforço no pré-natal, orientação sobre riscos para gestantes, acompanhamento contínuo para mulheres com indicação de parto prematuro. pré-natal adequado para controlar pressão alta ou infecções, planejamento familiar, evitar gestação na adolescência, evitar álcool e drogas durante a gravidez. Além disso, este ano, foi sancionada a lei que institui o Novembro Roxo e o Dia Nacional da Prematuridade. A medida determina prioridade para ações de prevenção. Um bebê é considerado prematuro quando nasce antes das 37 semanas. A Organização Mundial da Saúde divide a prematuridade em três níveis: moderada: 32 a 36 semanas; severa: 28 a 31 semanas; extrema: antes de 28 semanas. Nos casos mais graves, a incubadora, com temperatura e umidade controladas, substitui temporariamente o útero materno. Monitores acompanham batimentos cardíacos e respiração em tempo real, e equipes multidisciplinares atuam em plantão permanente. VÍDEOS: g1